quarta-feira, 7 de junho de 2017

Patrimônio Gastronômico | Um guia dos mais tradicionais restaurantes tombados do Rio de Janeiro

Por Nicole Gois

Qual carioca nunca se sentou à mesa de um barzinho ou restaurante para uma comemoração, uma boa refeição ou apenas um bate-papo casual? Nada mais justo, então, preservar a história desses lugares tradicionais e boêmios da cidade.

Este é um pequeno guia dos principais e clássicos estabelecimentos tombados pelo patrimônio histórico do Rio de Janeiro, que não estão localizados na Zona Sul da cidade.


MARIA DA GRAÇA

Foto: Alexandre Macieira | Riotur
Café Lisbela (Bar da Amendoeira)
Rua Conde de Azambuja, 881 

Também conhecido como Bar da Amendoeira, o local conserva a tradição da boemia nos bares do subúrbio. Na vitrine, em cima do balcão, o bolinho de carne se destaca. O petisco, apelidado pela clientela de “feio”, é o carro-chefe da casa junto com a carne seca – servida com farofa, aipim ou cebola – e, claro, o chope. De segunda a sábado, na hora do almoço, são servidos pratos especiais. Sexta-feira é dia de feijoada completa e sábado, de angu à baiana. 


TIJUCA

Frases divertidas enfeitam o cardápio.
Foto: Rio de Janeiro a Dezembro
Café e Bar Brotinho
Rua Garibaldi, 13 - Tijuca

Café e Bar Brotinho é o nome oficial, gravado em letras negras pregadas na parede verde-clara, já com sinais de desbotamento. Mas ninguém sabe. Este clássico da Muda é conhecido como Bar da Dona Maria. Aberto em 1947 em um sobrado dos anos 30, foi comprado em 1960 pela portuguesa Maria e seu marido, José Catarino, e até hoje preserva a atmosfera daquela época. É uma daquelas casas de administração familiar, cujo dono dá expediente detrás do balcão e conhece os clientes pelo nome. As receitas que trouxe de Portugal fazem sucesso entre os frequentadores do local, a maioria moradores do bairro que, principalmente aos sábados, lotam a calçada para comer risotos de bacalhau e de camarão.

 Aldir Blanc, Ivan Lins, Gonzaguinha, Zé Keti, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Nei Lopes e João Nogueira são alguns dos figurões que frequentaram o bar.

   
BENFICA

Foto: Alexandre Macieira | Riotur
 Bar do Adonis (1952)
 Rua São Luiz Gonzaga, 2156 -  loja A 

Se há na cidade um bar de subúrbio conhecido para além da zona de influência dos trilhos da Central e da Leopoldina, este bar é o Adonis. Laureado, estrela de reportagens, crônicas e documentários, o Adonis está longe de ser o único, mas é certamente o mais unânime símbolo do típico botequim suburbano carioca.

O Adonis está localizado em uma esquina de Benfica, na Rua São Luiz Gonzaga. Famoso pelo chope gelado e o Bolinho Bacalhau, o bar já foi eleito o melhor da cidade, superando as principais casas de culinária portuguesa do Rio de Janeiro.


CENTRO

Foto: O Globo
Casa Paladino (1906)
Rua Uruguaiana, 224/226 

No mesmo endereço desde sua inauguração, em 1906, a Casa Paladino é um dos mais clássicos armazéns/botequins do Rio de Janeiro. Daquela época, ainda estão no salão cristaleiras e outros objetos requintados. O forte desse restaurante centenário são as omeletes e os sanduíches:  omelete de queijo, presunto, cebola e salsa, de camarão e bacalhau e, uma das mais festejadas, a de sardinha portuguesa. Omeletes à parte, o grande campeão de vendas da casa é o sanduíche triplo, com queijo provolone, ovos mexidos e presunto no pão francês.

O colunista Juarez Becoza relembra ao RioShow: "Foi onde eu tomei o primeiro chope da minha vida. Na época eu tinha 15 anos, mas a Casa Paladino já era uma sessentona de respeito. Hoje, com mais de um século de história, o lugar preserva uma das mais pitorescas tradições cariocas: a do botequim mercearia. Onde se bebe, come e compram secos e molhados a granel para levar para casa."



Foto: Nicole Gois
Confeitaria Colombo (1894)
Rua Gonçalves Dias, 32

Espelhos belgas. Bancadas de mármore italiano. Vitrines em jacarandá. Em meio ao grande e conturbado movimento do centro do Rio, entrar na Confeitaria Colombo é como entrar em um túnel do tempo. É como se fosse uma fotografia restaurada e intacta da Belle Époque nacional. O local preserva em 120 anos de história o mesmo mobiliário do século XIX. Foi ponto de encontro de artistas, políticos e intelectuais - como Olavo Bilac, Rui Barbosa, Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga, entre outros. Ainda hoje oferece um cardápio extenso, que contempla café da manhã, almoço e lanche.



Foto: Wilton Junior
Bar Luiz (1927)
Rua da Carioca, 39

Aberto quando o Brasil ainda era um Império, em 1887, é uma das casas mais longevas e tradicionais da cidade. Inaugurado pelo filho de suíços Jacob Wendling, em 1887, o bar teve como primeiro endereço a Rua da Assembleia, mudando-se para a Rua da Carioca em 1927. Há 123 anos sob a direção da mesma família, foi também um dos primeiros locais a oferecer chope no Rio.



LAPA

Foto: Guia da Semana
Armazém Senado (1907)
Avenida Gomes Freire, 256 

Resistindo na esquina da Rua Gomes Freire com Rua do Senado, a casa é uma joia raríssima hoje na cidade, um exemplar fidedigno dos antigos armazéns cariocas. Agrega todas as características típicas: o pé direito alto, o conjunto de armários de madeira cobrindo boa parte da parede e, como não poderia faltar, um belíssimo balcão de mármore. Há apenas umas duas ou três mesas disponíveis para o botequim, mas a maioria dos clientes prefere beber em pé junto ao balcão, ou observar a vida passar na rua. 



Cabrito é a especialidade da casa. Foto: Férias Brasil
Nova Capela (1903/ 1967)
Rua Mem de Sá, 96

O Capela original, aberto em 1903 num sobrado no Largo da Lapa nº 30, foi transferido em 1967 para o atual endereço na Av. Mém de Sá, tornando-se o Nova Capela e um dos maiores clássicos da gastronomia do Rio de Janeiro. Muito frequentado pelos boêmios cariocas, conta com uma decoração simples, composta por fotos antigas, cartazes, quadros com inspiração esportiva, imagens de santos e paredes revestidas por azulejos cor de argila.  Foi lá que outro tradicional prato carioca nasceu: o Filé à Francesa.



Foto: Derigo.me
Bar Brasil (1907)
Avenida Mem de Sá, 90

O Bar Brasil é antes de tudo um centenário sobrevivente no meio de uma Lapa que não para de mudar. A casa mantém o mesmo simples ambiente desde que foi aberta em 1907. É um pequeno salão em formato de L com a velha geladeira de madeira, o balcão de metal e os quadros do Selarón. O bar recebeu o nome atual após a Segunda Guerra. Antes, ele se chamava Bar Zepellin e pertencia a um grupo de austríacos. Em 1967, passou às mãos do espanhol José Riveira, que manteve o cardápio com influências da culinária alemã. E entre os quitutes ainda hoje servidos na casa estão o kassler (costela de porco defumada, acompanhada de salada de batata, chucrute ou à mineira); o mix de salsichas (com salsichão vermelho e salsichas branca, Frankfurt e suíça); e o joelho de porco, servido com chucrute e batata cozida. O chope gelado, tirado de uma serpentina centenária, também é uma tradição do local.


O famoso Filé Oswaldo Aranha.
Foto: Alexandre Macieira | Riotur
Cosmopolita (1926)
Travessa do Mosqueira, 4

No coração da Lapa, a casa continua no mesmo local desde a sua inauguração em 1926. O pequeno espaço tem ares nostálgicos: recorda antigos períodos, onde o local fervilhava de políticos e diplomatas. Entre eles, Oswaldo Aranha, que reza a lenda, ali teria dado nome ao prato que se tornou um dos grandes clássicos cariocas: o Filé Oswaldo Aranha (tornedor com muito alho, batata portuguesa, farofa e arroz).



Foto: Guia Cultural do Centro Histórico do Rio de Janeiro
Adega Flor de Coimbra (1938)
Rua Teotônio Regadas, 34, Loja A

A casa foi fundada como uma mercearia típica portuguesa, que servia entre outros, bolinhos de bacalhau e vinho de barril. Aos poucos foi ganhando fama e recebeu o formato de adega e um cardápio recheado de especialidades da terrinha. Em funcionamento há 72 anos, é decorado por painéis de Nilton Bravo (1937-2005), também conhecido como o Michelangelo dos botequins. Entre os frequentadores estava o pintor Candido Portinari (1903-1962), que morava na parte de cima do sobrado.